Sobre “Elis, a musical”

Eu era muito pequena, mas lembro do aparelho 3 em 1 com dial iluminado tocando Elis Regina e minha mãe cantarolando pela casa. Cresci admirada pela entrega, por toda emoção que aquela mulher conseguia carregar na voz. Quando me profissionalizei como cantora, foi inevitável que Elis se tornasse minha maior inspiração. Assim, também foi inevitável que o musical sobre Elis fosse tão esperado por mim, até porque não tive a oportunidade de ouví-la cantar ao vivo (sortudos dos meus avós, que viram um show da turnê Falso Brilhante).

Uma semana após a estreia da peça em São Paulo, lá estava eu, acompanhada da minha irmã (atriz nata), ambas com frio na barriga na platéia do Teatro Alfa. Já vi uma imensa quantidade de vídeos da Elis, muitos deles remontados ali no palco do teatro. A interpretação de Laila Garin é impressionante, o timbre se aproxima absurdamente ao da Elis. Claudio Lins e Tuca Andrada como César Camargo Mariano e Ronaldo Bôscoli, respectivamente, atuaram lindamente. Cabe ressaltar que a orquestra também deu um show! Fora estes destaques, o musical soou superficial e minha irmã, que esperava conhecer melhor a história desta grande intérprete, saiu frustrada, já que a colagem de números musicais não conta claramente a trajetória da Pimentinha.

Ficou a impressão de que faltava uma narrativa que conectasse as cenas e canções, uma voz em off que contextualizasse ou elementos de dessem unicidade a tudo. As coreografias pareceram um pouco caricatas, o palco parecia meio vazio e a cenografia também ficou aquém do esperado para um espetáculo desse porte. Além de algumas “forçadas de barra” como quando uma moça imita de forma muito “Casseta e Planeta” a Marilia Gabriela, desviando o foco da história totalmente (eu adorava “Casseta” mas nesse contexto não combina esse tipo de abordagem). Outro detalhe incômodo foram os ruídos dos momentos de transição de elementos cênicos (entrada ou saída de móveis, painéis e tudo mais)… estávamos longe do palco e ainda sim ouvimos o barulho.

Como fã de Elis, saí um pouco frustrada. Esperava algo grandioso, surpreendente, “fogos de artifício”, colorido, forte, cheio de emoções e conflitos, ingredientes presentes na vida e obra da Elis. Mas foi um show bem montado, que provavelmente agradará muita gente, talvez não um musical…

Li que a intenção era homenagear a Elis mas acho que ela merecia mais…

Massa e utopia – Megaexposições no Brasil reafirmam o conceito de indústria cultural criado por Adorno e Horkheimer

A mercadoria cultural, diz Adorno, não precisa mais ser vendida. Depurando-se tendencialmente dos elementos concretos (fundados na apropriação reflexiva do objeto por parte do sujeito), tais obras têm seu valor cada vez mais limitado ao de troca, de representação, ao veicular significados abstratos e pouco definidos (como “juventude”, “família”, “feminilidade”, “aventura” etc.).

Seu valor de uso metaboliza-se como suporte cada vez mais desqualificado em si mesmo – em direção a algo cuja especificidade de construção é o menos relevante possível –, de modo a acolher toda a gama de afunilamentos estereotipados e padrões que pré-formatam a percepção do próprio objeto.

Dada a fluidez incessante com que a moda e tendências artificialmente insufladas nos objetos se impõem como princípio da aceitabilidade do que é consumido, a mercadoria cultural não precisa ter preço, uma vez que o sistema inteiro é vendido, propagandeado e assim se reafirma em cada uma.

Isso implica dizer que nunca se consome um objeto em sua singularidade – duplamente pensada: tanto pela especificidade de sua constituição imanente, quanto pela concretude reflexiva da demanda subjetiva. Em vez disso, uma densa rede de princípios que sustentam a mobilidade da dinâmica capitalista se consubstancia na docilidade com que cada objeto “presta um serviço” ao indivíduo, por facilitar ao máximo seu espelhamento em tais princípios globalizantes.

Cada acorde estridente e agressivo em um solo de guitarra de uma música de cultura de massa, por exemplo, deverá ser tão juvenil e irreverente quanto a música inteira, e a própria pessoa gostaria de se perceber não apenas naquele momento, mas como ingrediente do culto de sua própria personalidade. De forma análoga, um beijo em uma novela deverá ser tão romântico e enternecido quanto toda a sequência de capítulos, quanto também cada espectador demanda se definir ou se ver como tal.

Produção artificial

As linhas acima delineiam uma faceta significativa do modo como Theodor Adorno compreende a submersão da cultura no fluxo incessante da produção artificial de valores, a serem absorvidos segundo parâmetros alheios à lógica que institui a identidade das obras consigo mesmas.

Longe se está do princípio laborioso de constituição de um sujeito através do modo com que se defronta com o objeto que resiste aos princípios imperialistas dos processos de subjetivação.

Em vez de uma objetividade do objeto que assegura sua dignidade ao se recusar a ser absorvido pelo horizonte subjetivo, tem-se um curto-circuito entre a totalidade social e uma individualidade que percebe a si mesma ao refletir, para sua glória, essa sublimidade coletiva.

Temos, a partir dessas colocações iniciais, um duplo movimento de equalização entre um âmbito universal (ou totalizante) e um particular (ou individual), pois tanto os elementos específicos são submergidos em um esquema geral de confecção das obras quanto cada indivíduo demanda um espelhamento no fluxo de constituição do real pelos valores sociais, econômicos, religiosos etc.

Trata-se do que Adorno denominou uma reconciliação forçada entre particular e universal, pois a conexão entre ambos os polos ocorre de forma a fortalecer a inércia social das relações de poder.

O paradigma da construção ideológica atual não é mais a transcendência sublime, vazia em sua elevação para muito além das vicissitudes da dialética da vida humana, mas sim este construto cultural que abdica da inteireza de sentido, cedendo ao fluxo incessante da comunicação toda a eloquência que deveria alcançar precisamente em sua diferença perante os processos de reificação.

Não cabe falar, diante deste estado de coisas, de uma obra que se venda aos milhões por se distinguir das outras na excelência com que consuma uma lei de movimento próprio, mas sim, bastante ao contrário, pela mestria técnica com que codifica uma totalidade violentadora dos indivíduos.

Tal violência deriva do fato de se ensinar aos consumidores a percepção da continuidade da ordem subsistente como seu próprio sentido, em vez de fomentar o desejo de instituir uma nova concepção de mundo.

Assiste-se a uma adequação crescente entre uma subjetividade que se institui como aglutinação de tendências sociais reificadas e objetos que se produzem e reproduzem sob os auspícios de uma lógica industrial de que os indivíduos querem tomar parte. Clara está a apropriação de uma totalidade que se renova incessantemente ao ser vendida em pequenas partes que cabem a cada um na percepção de sua impotência diante de uma lógica social onipotente.

A renovação, mutabilidade, meios de escolha e toda sorte de diferenciações prismáticas entre os objetos constituem o conteúdo manifesto de uma lógica implícita, que exclui tendencialmente a substancialidade que o singular poderia ter ao não mais aderir a este plano da existência.

A eficácia da cultura de massa é dada, assim, pelo modo com que ela se aproxima de uma imbricação indiferenciada entre cada elemento particular e a totalidade, tanto quanto da obra quanto macro, da sociedade.

Tudo isso, deve-se salientar, não configura um princípio descritivo de coisas, a partir do qual pudéssemos identificar objetos especificamente “de cultura de massa”, mas sim um princípio de análise contextual, que quer apreender uma lógica de inserção de quaisquer objetos, situações ou realidades sociais em uma racionalidade propriamente instrumental, por reduzir ao máximo a qualificação de algo a apenas meio, veículo, para algum fim.

Entre outras coisas, isto significa o poder da industrialização da cultura em se apropriar de inumeráveis objetos sem que nada seja alterado em seu aspecto físico, plástico, material.

Grandes exposições de arte, como as que pudemos assistir recentemente em São Paulo, do pintor italiano Caravaggio e também dos impressionistas franceses, não necessitam de qualquer intervenção concreta no sentido de adequá-las a uma percepção massificada, pois esta já pode se dar para vários dos espectadores, quando a arte será tomada como confirmando tudo aquilo que já se falava dela, a saber, que possui alto valor cultural.

O sumiço da obra

Mesmo deixada em sua realidade material primeira, a obra “desaparece” por detrás de sua imagem, estampada em todos os livros de arte que provavelmente o espectador já terá freqüentado antes de ter os quadros reais diante dos olhos. A dignidade da própria pintura tenderá a se resumir na confirmação gloriosa de quanto o livro era fiel como enunciador mítico de um discurso, de uma imagem, que deverá ser resgatada neste ritual de apropriação da obra em sua concretude física, mas não mais espiritual.

Tal como o turista coloca seu próprio prazer a serviço dos valores publicitários, averiguando com os próprios olhos o quanto o cartaz da agência era verdadeiro, o consumidor da arte obtém um ganho narcísico pelo modo com que ratifica o valor elevado da cultura, que se impregna em um discurso suficientemente brilhante, sofisticado e sublime.

Há que se atentar para o fato de que não se trata necessariamente de banalização, uma vez que a arte poderá ser consumida no instante mesmo em que se lhe assegura sua singularidade, como espécie de pedestal que testemunha uma elevação possível para além da mesmice daquela cultura de massa clara e positivamente marcada como tal.

Muito útil para entender tais questões é a ideia de Adorno de que a música de cultura de massa ouve a si mesma, em lugar do sujeito. Ela já está pré-digerida, contendo antecipações de quaisquer desenvolvimentos melódicos que se apresentam, insistentes, ao longo do tempo musical.

Assim, toda a música se converte em uma série de implicações tautológicas do que já se esperava dela. Trata-se de movimentos reiterados no sentido de subtrair ao espectador a oportunidade de ter prazer com a construção do sentido, do significado que uma obra tem em sua especificidade, em sua concretude como algo cuja totalidade depende da capacidade de cada observador em articular, pela imaginação, todos os elementos particulares.

Neste último caso, que caracteriza as obras de arte em sentido estrito, cada elemento, que irá se somar para constituir a obra como um todo, sempre apresenta um grau expressivo de resistência para sua integração.

As grandes obras, que por assim dizer abrem capítulos da história da arte, solicitam o que Adorno fala como “mitkomponieren”, um compor simultaneamente a música ao ouvi-la, seguindo seus desdobramentos como se, ao mesmo tempo, nos colocássemos a tarefa de contribuir para a geração de um sentido para a conexão de todos os sons.

Embora sempre se possa criticar uma diferenciação enfática entre os âmbitos de cultura de massa e da arte séria – na medida em que há várias obras com características de ambos os polos –, tal distinção conceitual é muito significativa para Adorno.

Ela contribui de forma decisiva para seu projeto filosófico de conceber uma relação entre sujeito e realidade que ultrapasse as vicissitudes da racionalidade instrumental, consubstanciada na técnica, na ciência, no capitalismo, nas instituições políticas e, particularmente, na colonização do âmbito estético pelo desejo de lucro e de manutenção da ordem existente, ou seja, na indústria cultural.

Tal como dissemos, a relevância deste delineamento conceitual não deve ser medida por sua habilidade de descrever objetivamente cada música, filme ou romance, mas sim por instituir um princípio de análise crítica sobre como quaisquer produtos podem se adequar à lógica de colonização dos meios pelos fins de geração de valores, principalmente os econômicos.

Racionalidade

Mais relevante ainda, entretanto, mostra-se a configuração da arte séria como uma espécie de antecipação alegórica de um espaço de utopia, em que se vislumbra, mesmo que de forma bastante indeterminada, uma reconciliação possível entre indivíduo e sociedade, espírito e natureza, intelecto e sensibilidade.

Embora tal concepção tenha sido criticada por diversos autores como por demais metafísica, a resposta, dentro da obra adorniana, consiste em apontar enfaticamente que tal reconciliação utópica permanece válida apenas se mantida no âmbito de uma possibilidade, de modo que toda sua figuração positiva, atual, necessariamente a falsifica.

Assim, que haja obras de arte cuja excelência as destaca indubitavelmente do contexto de apropriação capitalista do prazer estético é muito mais significativo do que a incerteza de aplicação do conceito crítico de indústria cultural a diversas obras que seriam, por assim dizer, híbridas, não totalmente claras quanto a seu valor como arte ou cultura de massa.

A melhor resposta à crítica de um teor metafísico, entretanto, nos parece a de que as grandes obras de arte, tal como Adorno as concebe, apresentam- -se como índice de uma racionalidade que robustece a si mesma devido a seu constante exercício. Perceber a cada momento o quanto o sentido de nossa relação com as coisas depende de nosso engajamento reflexivo é parte essencial de nossa atitude para com as grandes obras de arte.

Sua relutância em se acomodar a nosso narcisismo, ao culto de nossa personalidade, demonstra sua excelência como um convite de decifração de seu enigma, ligado profundamente àquilo que lhe confere um valor no âmbito da cultura.

Consciente de que a aceitação deste convite já demanda uma subjetividade afim à que a arte pretende formar, Adorno insiste na importância da filosofia como porta-voz eminente de um significado que permanece “mudo” na relação concreta com as próprias obras. Muito de seu pensamento tem como sentido mais próprio fazer falar o que permanece como um silêncio eloqüente no cerne dos grandes monumentos da cultura – cabe a nós a disposição de aprender com esse diálogo.

Verlaine Freitas

é professor de filosofia na Universidade Federal de Minas Gerais e autor de Adorno e a Arte Contemporânea (Zahar)

Fonte: Revista Cult

Lobotomia, nomes duplos e Papai Noel

por Mariana Paes

Meu primeiro emprego com carteira assinada foi no call center de um banco. Eu fazia aulas de canto, faculdade e trabalhava. Algumas peculiaridades da vida de atendente me fizeram escrever uma matéria sobre isso durante a época de curso de Jornalismo.

Resolvi resgatá-lo e compartilhar aqui…

Lobotomia, nomes duplos e Papai Noel

Um grande prédio, um grande número de computadores por andar. Cerca de 4.000 pares de olhos que respondem por nomes duplos a um telefone que toca sem parar: após um cliente mal educado, em quatro segundos os dados de outra pessoa aparecem na tela, seguido de um pitoresco cumprimento: “Rafaela Silvana, bom dia”.

Aqueles pares de olhos passam seis horas diárias frente ao computador respondendo aos clientes conforme manual com frases “pré-fabricadas”. São praticamente uma extensão do equipamento. Após um mês de treinamento — português, comportamento, ergonomia, sistema da empresa — quase 100 ligações passam por cada um dos telefones da gigantesca central de atendimento ao cliente numa jornada de 6 horas.

Nas seis horas, dez minutos para ir ao banheiro e/ou tomar água e quinze para tomar um lanche de “pão com alguma coisa” com algum acompanhamento: chá, café, café com leite, chocolate, suco ou água. Aliás, em feriados, madrugadas, finais de semana, dias de chuva ou sol, nomes duplos atendem sob a égide de regras definidas em tempos anteriores ao nascimento de seus pais.

Todas as ligações gravadas. É exigido controle emocional mesmo quando o cliente culpa o atendente por seus problemas, xinga ou até mesmo ameaça de morte a pessoa que está ali apenas como interlocutor da instituição.

Esse controle também é necessário ao lidar com “donos” de nomes incomuns, que escolhi não citar para evitar expô-los. Mas, acreditem, tem mistura de nomes de artistas, de parques da Disney e até pessoas com nomes de lojas, frutas e bandas. Risinhos? Não, são passíveis de demissão aqueles que deixarem escapar. Corda bamba também para os que ficam “no vermelho” e não saem do cheque especial.

Uma vez por semana o supervisor (que zela por aproximadamente 25 atendentes) chama seus funcionários. Uma ligação atendida por cada nome duplo é analisada e uma nota é estipulada. O supervisor explica que o atendente não pode rir, falar seu nome verdadeiro, informar onde fica a central de atendimento, tem que cuidar pra não ter uma Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e vender, vender, vender.

Aquele velhinho que mal ouve o que o nome duplo diz que só queria saber se precisa mesmo pagar a conta de 100 reais, lamenta muito por ter pouca aposentadoria, aproveita os ouvidos receptivos do outro lado da linha e fala sobre quando foi militar, como sua esposa faleceu e quão ruim foi quando seus filhos pensaram em colocá-lo em um asilo.

Mesmo após ouvir todas as lamúrias, aquele nome duplo é obrigado a oferecer um serviço que custa caro para um aposentado. Ele compra e o peso na consciência é enorme… parece que ele nem entendeu nada, mas só comprou porque “foi muito bom falar com você, uma moça tão educada, filha”.

Então é a hora de seguir outra parte do script: comemorar a venda. Sim, porque todo nome duplo que se preza tem um pompom similar ao das Paquitas nos anos 80. O “acessório” fica na gaveta da mesa. Aquela mesa não pertence a ninguém, nem o pompom, porque cada dia os nomes duplos se acomodam “onde tem lugar”, contanto que seja naquele núcleo próximo ao supervisor.

Mas o que importa é que o velhinho comprou o produto: o pompom chacoalha no alto e o restante da equipe deve seguir o gesto para mostrar aos outros grupos que ali tem gente que sabe vender e pode “bater a meta”. Trabalham cinco dias por semana. Se esses coincidirem com os dias úteis, ótimo. Se não, paciência. Mas os nomes duplos preferem achar isso bom porque dinheiro da hora extra é bem vindo. Sempre devem ofertar os produtos, em todos os atendimentos (exceto quando o cliente estiver devendo, claro) e precisam vender mais de 100 produtos por dia.

Tarefa difícil quando 90% dos atendimentos são de clientes irritados, querendo que a empresa exploda e todos os seus funcionários morram de forma lenta e dolorosa. A fala robótica dos nomes duplos causa ainda mais ira. Ofertar produto? Precisa, mas não adianta. Quem vende muito ganha brinde, café da manhã, camiseta, boné, porta-cd. Tudo com a bela marca da instituição, que está espalhada por todo o país.

Todos os dias são iguais. Tem que bater o cartão dois minutos antes ou depois do horário de início do expediente. Nenhum papel, caneta, celular. O melhor amigo é o headset, o fone que deve ser ”trocado de ouvido” a cada hora para evitar problemas auditivos, conforme o treinamento do mês que precede o início da vida escondida por trás de um nome duplo.

Para as milhares de pessoas que são atendidas, ali são computadores com nomes duplos. Não existe vida do outro lado da linha quando recorrem ao call center. Para os nomes duplos, sábado, domingo e feriado são folgas que dependem da escala mensal, assim como o horário do lanche, que um dia é às 9h45, outro é às 10h30, outro é às 11h15. O sistema escolhe as folgas os lanches e os nomes duplos.

Os atendentes não têm sobrenome, portanto, não têm família, passado, sentimento ou sofrimento. Sempre uma faceira saudação deve iniciar um atendimento, independente de dor de cabeça, problemas familiares, cólicas, sono… afinal, computadores sentem alguma coisa?

Mas os nomes duplos não costumam reclamar. São abduzidos por benefícios que os fazem “prosperar” no capitalismo canibal e desigual da terra verde e amarela. Participação nos lucros, trabalho registrado mesmo com a faculdade ainda em curso, redução nas taxas, facilidades em financiamentos, seis horas de jornada, convênio médico e odontológico: o mundo maravilhoso que se abre no horizonte.

Inexplicavelmente o mundo das regras — sem mudanças drásticas no visual, unhas aparadas, sapatos engraxados, nada de roupas extravagantes, barba feita, cabelos cortados, postura adequada, roupas passadas (sim, até isso) — torna-se uma extensão da vida dos nomes duplos que voltam a usar seus nomes comuns ao sair da central de atendimento mas continuam invisíveis: repetem frases prontas em script, seguem o que está no sistema e nas “leis de conduta”. Tudo é lindo. O Papai Noel também. Lobotomia?

Momento surto criativo: Roteiro alternativo para Avenida Brasil

por Mariana Paes
colaboração de Camila Barone

A história da televisão brasileira se confunde com a história das telenovelas brasileiras… ano após ano vemos várias delas chegando e indo embora, lançando modas, alienando pessoas, causando risos, lágrimas, revolta e tudo mais.

Sem hipocrisia, todo mundo já parou um pouquinho na frente da TV pra checar a novela. Com as mesmas figurinhas se repetindo sempre na tela, dá pra confundir histórias. Mas, o interessante mesmo, é criar roteiros alternativos, que interligam diversas novelas. Eu e minha amiga Camila Barone criamos um desfecho alternativo para “Avenida Brasil”:

– Na verdade o Albieri é o grande vilão da novela, com sua sobrancelha horrível que vem desde “O Clobe”
E a sobrancelha do Albieri continua a mesma! Clona bonequinhos em sua oficina para testar suas técnicas, até o momento em que revela sua grande experiência: Tufão é “O Clone” de Lucas, Leo e Diogo Ferraz.

– Além de Albieri, outra pessoa chega do Marrocos: Jade, que revela ser a mãe da Carminha. Gerando uma grande questão filosófica pra socidade brasileira: o pai de carminha é o Lucas, que tem o mesmo DNA do marido que Carminha usou e abusou. Isso é crime… talvez, não sabemos… o público vai debater.

– Outra fugitiva do Marrocos é Nazira (afinal, a equipe de “O Clone” instituiu a ponte aérea Rio-Marrocos), que na verdade gerou o Tufão-clone e está lá espionando Carminha.

– Toda falta de ética e noção dos personagens nos indica que realmente estamos no fim dos tempos, mas só temos certeza disso quando um dinossauro (vindo diretamente da “Morde & Assopra”) chega para ajudar Carminha (Julia, que parecia boazinha na outra novela) em seus crimes.

– De repente, Mário Jorge (Miguel Falabela) aparece na casa do Tufão pedindo que Celinha (Carminha) volte para casa com ele, no Jambalaia Tower. Aí o público descobre que é tradição da Carminha viver em uma casa com o maior entra e sai de gente, palpiteiros de plantão e figurinos duvidosos. Bozena vai pra casa da Carminha, direto de Pato Branco, para substituir a Nina.

– A vida de prostituta da Carminha foi intensa: Antonio Fagundes aparece pra tentar seduzí-la novamente, já que é “O Rei do Gado”.

– Enquanto isso, no núcleo engraçado da novela, Cadinho revela ser Jacques Leclair e começa a fazer roupas para ganhar dinheiro e sair da lama. Como Carolina Ferraz é a mais posuda de suas três esposas, ele se casa definitivamente com ela, que na verdade é Amanda, que foi abandonada pelo Astro (Rodrigo Lombardi) por causa da Gabriela (Juliana Paes).

– Então, Max finalmente vê que a concorrência tá complicada e volta pra Babalu (Letícia Spiler). Mas o relacionamento acaba no momento em que Babalu descobre que ele é o Xandy, que engravidou Nina (Débora Fabela), que usava o nome Mel em “O Clone”.

– Já que a Nina na verdade é a Mel, mocinha que abusava das drogas, dá pra entender o motivo de ela ficar tão bitolada na vingança e ter tanta gana por dinheiro!

Fim…

Contra o machismo na área náutica

por Mariana Paes

Hoje vou usar o espaço do blog para um texto diferente… preciso expor algumas situações e manifestar meu posicionamento.

Há cerca de dois anos conheci a arte da vela… ouvir o vento, entender o mar e usá-los da melhor forma para deslizar pelas águas. Comecei com livros e filmes sobre o assunto, principalmente os materiais da Família Shurmann.

Aos poucos, fui me encantando por essa arte incrível, fiz curso de vela e hoje me considero uma velejadora iniciante. Já aprendi o vocabulário náutico, sei ficar no leme e também regular as velas, aprendi várias coisas relativas à regras para entrar em países pelo mar, como tratar outros velejadores, que cursos fazer para dar a volta ao mundo e, principalmente, como trabalhar em equipe no barco.

Nesse período, ouvi algumas idiotices de homens… tipo “você não aguenta ficar no mar”, “é uma viagem muito longa pra você”… cheguei até a ouvir que mulher não era parte da tripulação, que só servia para limpar e arrumar o barco. Não me intimido com chuva, trovão, vento forte, mar grosso… mas o que me faz chorar de raiva é esse tipo de pensamento machista e retrógrado!

Sim, eu posso fazer comida pro pessoal e arrumar o barco, mas isso não me faz incapaz de puxar cabo, regular vela, ficar no leme, limpar casco, bater prego ou qualquer outra coisa. Talvez para algumas funções me falte força física, mas não falta fibra e vontade. No barco o que conta é cooperar, trabalhar em equipe, entender a importância e o papel de cada um e ser flexível, entender os sinais da natureza e respeitá-la. E vão me dizer que mulher não aguenta ou devia ficar em casa… perco a paciência. Não tolero machismo.

Agora olho em um site de um grande evento náutico e me deparo com uma chamada péssima, dizendo que o evento também é pra mulheres, já que tem lojas de decoração para barcos, acessórios e roupas apropriadas. Faça-me um favor!!! Uma entidade oficial do setor tomar uma postura tão sem noção quanto essa é uma afronta! Mulheres incríveis colocaram seu nome na história da vela mundial, como Jessica Watson, Isabel Pimentel e Heloísa Shurmann… com muita garra, fibra e coragem! E o povo ainda têm coragem de escrever um absurdo desse!

E esss pessoal que faz eventos acha que o foco é sempre masculino, rebaixa a mulher a simples objeto e a coloca como demonstradora de produtos com roupas diminutas, como se fossem meras bonecas infláveis. E ainda sujeitam as moças, que precisam trabalhar, a situações constrangedoras. Tudo bem que várias delas concorda com essa palhaçada, mas promover uma coisa dessas é uma violência contra o feminino.

Sou mulher, sou delicada, mas sei o que eu quero e sou firme. Não velejo pra agradar ninguém, nem vou pro barco só pra agradar o namorado ou pra fazer tipo. Vou porque amo, porque quero, gosto e pretendo viver minha vida assim. E, se for pra ir contra essa babaquice de machismo nesse meio, ok… viro leoa e defendo as mulheres velejadoras. Mas NINGUÉM vai vir falar na minha cara que a gente não é capaz!!!

Podem me chamar de hipócrita, feminista… a questão é respeito!

Sorte ter ao meu lado um velejador que não tem esse tipo de caca na cabeça!

#prontofalei

Coxinhas na área vip

Texto genial publicado no site da Época me fez compreender o motivo pelo qual ando me sentindo tão deslocada em grandes shows nos últimos tempos… não vou “montada” pro show, vou pela música e não usar a presença no evento como forma diferenciação!

por Luís Antonio Giron*

O público de shows está se alterando, em especial o de espetáculos de rock e pop em espaços abertos. As mudanças podem ser observadas nas atitudes, na gestualidade e no estilo, na forma de falar e de cantar. No último show da banda californiana Maroon 5, na Arena Anhembi em São Paulo, no domingo, dia 26 de agosto, não foi diferente. Como a cada evento surge uma novidade no âmbito do comportamento, são perceptíveis agora algumas inovações bizarras dignas de nota. O público, predominantemente jovem, anda mais antipático e exibicionista do que jamais pude testemunhar em 30 anos de cobertura de espetáculos desse tipo. Os frequentadores de hoje comparecem mais para ser conhecidos do que conhecer, mais para brilhar do que para ver o espetáculo. A interação com os artistas deu lugar à ostentação, a espontaneidade ao exibicionismo. Os novos espectadores São muito diferentes dos que já passaram. Gostaria de explicar por que essas mudanças ocorrem, e em que elas alteram a própria maneira de praticar e compreender a arte.

Antes de mais, um naco de reflexão. O público é histórico. Tem data e local. Varia de acordo com as mudanças de anseios, sonhos, sensibilidade e interesse em determinados temas ou aspectos da realidade, da tecnologia e da arte disponíveis no momento. Lembro-me de que, três décadas atrás no Brasil, havia uma fome terrível de conhecimento. O interesse crescia na razão inversa da oferta de espetáculos. Eram os anos 80, quase nenhum talento internacional ousava se apresentar no Brasil. E, quando o fazia, como a banda Queen, em 1981, a reação era apaixonada. Eu me recordo de ver o Morumbi na penumbra, iluminado pelos isqueiros e fósforos, a celebrar Freddie Mercury e banda, em um tempo em que não havia telões. Os jovens se encontravam para escutar um LP de vinil do Queen ou do Pink Floyd de cabo a rabo, sem dizer nada. Eram descabelados, malvestidos, ingênuos, agressivos, mal sabiam as letras e muito menos entendiam inglês muito bem. Acampavam na frente do estádio para sonhar com alguma utopia que o rock ainda poderia trazer.

Claro que não trouxe a utopia, e, ao longo da “década perdida” – como denominam os economistas os anos 80 no país – a oferta de shows era escassa e o público não sabia se comportar direito. Sabia, sim, vibrar e interagir com as bandas. Lembro de um show dos ingleses do Echo & the Bunnymen em 1985, quando a plateia suplicava pelos tênis dos músicos – e eles acabaram jogando os tênis que tinham nos pés sobre uma turba enlouquecida. Vigoravam pobreza e falta de informação. Se ir a shows podia ser divertido, também oferecia seus perigos. Como quando os punks e os carecas do ABC brigaram no extinto Palace em São Paulo quando por aqui passaram a banda americana The Ramones. Ninguém saiu ileso da pancadaria. Meninos e meninas riam das roupas sujas e molhadas. Os discos dos Ramones eram raros, todos os discos eram caros, mais ainda os importados. Ninguém pensava em YouTube.

Os anos 90 representaram a abertura econômica e cultural do Brasil para o mundo, apesar de tudo. E foi possível viajar, comprar discos, veio a MTV e um pouco de sofisticação. Um pouco. As roupas jovens não passavam de uma imitação barata das que os grandes centros exibiam. E os festivais que começaram a acontecer com mais freqeência traziam astros em fim de carreira, ou quase. No Rock in Rio de 1991 no Maracanã, lembro de um público largado, dançando ao som da banda inglesa Happy Mondays. Sob chuva, as garotas não temiam desmanchar a escova ou a chapinha – até porque não faziam. E tinha gente que ousava se despir completamente na frente do palco. A era grunge e das raves estava em alta. Começaram a aparecer telões nos estádios. E as pessoas se juntavam em uma desavergonhada maçaroca de desejos. Havia paixão pela música e por discuti-la em grupo. Quem conhecia mais discos e canções era rei. Havia interesse pela música, então o veículo dos anseios juvenis.

Foi assim até a metade dos anos 2000. Mas, com o crescimento econômico, a aparição da internet e a imposição das redes sociais, o comportamento se alterou nos shows de estádio. Com a decadência da Europa e a crise americana, os músicos passaram a ver o Brasil como a Meca da grana. O país tornou-se ponto obrigatório das turnês internacionais. E o público, mimado por todos os astros, já havia viajado, aprendido inglês e adquirido hábitos alinhados com as plateias mundiais. À medida que o gosto se banalizava, aumentava o acesso à informação – e o desinteresse por elaborá-la.

A resultante dos novos tempos foi a aparição da geração coxinha, dos jovens de posses que são tão bem comportados, que são iniciados sexualmente e fumam maconha nos estádios como se fizessem uma lição de casa. Na plateia modelo 2012, as meninas chegam vestidas para matar: de salto alto, minissaia e maquiagem carregada. Os rapazes surgem embriagados e drogados, ostentando grifes da moda e prontos para a azaração. Até aí não difere tanto dos públicos do passado, salvo pela qualidade das roupas e dos acessórios. O consumo de artigos de luxo nunca foi tão disseminado. Quase todo mundo carrega smartphones, correntes de ouro, brincos e relógios luxuosos. A ostentação ao ar livre muito se deve à implantação das áreas vip. Trata-se de uma situação escandalosa, pois encena a luta de classes nas arenas antes devotadas à igualdade proposta pela música pop. Na Arena Anhembi aconteceram muitos assaltos – e me surpreende não ter ocorrido um motim dos menos favorecidos, separados do palco por uma constrangedora cerca. Por isso, minha descrição é do público que pode ver um espetáculo de forma adequada – ou seja, na atual situação, aquele que paga para figurar nas áreas vip. Os excluídos que se acotovelam nos setores normais não podem ter nem o direito de dizer que assistiram ao show. Estão sendo enganados e, ainda assim, conseguem se divertir.

Mas voltemos aos que se divertem de fato, os coxinhas das áreas vip. Com tantas inovações e privilégios, a plateia se transformou em palco. O exibicionismo dos jovens é tão grande que ofusca o brilho das atrações do palco. Na realidade, os coxinhas parecem ir aos estádios pura e simplesmente pelo evento social. Eles gravam nos celulares sequências inteiras do espetáculo, quando não o show completo, para depois postar nos seus canais privados no YouTube, detalhando o set list. Tiram fotos uns dos outros, ou autofotos, só para postar no Facebook e no Twitter – imagens que ninguém quer ou vai ver.

A maioria não presta atenção ao que se passa no palco: enquanto canta as letras decoradas mecanicamente, ensaia passos de dança, olha para os lados, namora e envia torpedos. O sujeito da plateia se acha astro, mas a única pessoas que está prestando atenção nele é ele próprio. Todo mundo se mira na câmera frontal de seus celulares. Isso faz lembrar o teatro do narcisismo em sua quintessência: o novo lago, o novo espelho fixa e eterniza a imagem da volúpia egocêntrica. Desse modo, a cultura das celebridades na verdade rebaixa os artistas à condição de objeto de deboche. Adam Levine, o elétrico vocalista do Maroon 5, era alvo de gritos e camisetas como quem fosse linchado por adolescentes mais interessados no corpo dele do que na música que cantava. O público se afigura mais onanista, desatento e desmemoriado do que nunca. Como a música corre hoje feito água gratuita pelos encanamentos da internet, ninguém dá mais muita bola para ela. Deixou de despertar interesse. Viv’alma se reúne para ouvir um disco inteiro e prestar atenção a sua mensagem. Que álbum resiste ao BitTorrent e à falta de memória do ouvinte? O rock e o pop sofrem uma metamorfose como nenhuma outra forma de música. É como se sua essência fosse condensada ao formato mp3, conspurcada, espoliada – e não restasse mais que ruínas da velha arte da rebelião. A arena da chacina está em cartaz nos shows a céu aberto.

Enfim, o que mudou no público esses anos todos? Ao acompanhar a marcha da civilização, ele certamente trocou a fome de cultura pela congestão das ofertas irrelevantes e a diluição do prazer artístico. O excesso matou a curiosidade, as utopias e a antiga magia da juventude. E principalmente arrancou seu coração. Não posso querer voltar atrás e muito menos culpar os coxinhas por festejar na área vip. Resta-me apenas lamentar por aqueles que anseiam em ser iguais a eles – e são a maioria dos jovens, inclusive os assaltantes de coxinhas.

*Luís Antônio Giron Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV (Foto: ÉPOCA)Luís Antônio Giron Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV

Fonte: Época

Musical em Nova York renova clichês sobre o Rio para gringo ver

por Raul Juste Lores

Saem Carmen Miranda e personagens chamados Pepe ou Conchita e sombreros. Entram múltiplas referências aos longa-metragens “Cidade de Deus”, “Central do Brasil” e “Tropa de Elite”.

“Rio”, que estreou na terça da semana passada como parte do Festival de Teatro Musical de Nova York, atualiza, condensa e multiplica os clichês cariocas para consumo americano, mas sem constranger muito os poucos brasileiros na plateia do Teatro Saint Clement’s (que também funciona como igreja episcopal).

Com mais aulas de geografia que seus antepassados, os produtores e diretores canadenses e norte-americanos contam a história de Pipio (Nicholas Daniel Gonzalez), garoto de 12 anos que foi criado por freiras em um convento e procura por sua mãe.

Sobrevivente de uma chacina, que em muito lembra a da Candelária (1993), Pipio é testemunha dos disparos feitos pelo corrupto policial Ferreira (Lelund Durond).

Perseguido por Ferreira, Pipio é disputado por dois traficantes, Pantera (J. Manuel Santos) e Samson (Nik Walker), que querem trocar o menino por um carregamento de drogas e armas que será levado para São Paulo.

Pipio é protegido pela bela Neves (Tanesha Ross), misto de rainha da bateria com destaque de escola de samba, mulher do traficante Samson, mas que é assediada por Pantera. Só faltou o capitão Nascimento.

De “o Rio é o único lugar onde o inferno fica acima do paraíso” a “só Pipio consegue ver beleza aqui no morro”, as citações são mais ao Rio pré-UPPs que à cidade de Orfeu do Carnaval.

Algumas são até velhinhas: “Vai, Cafu” é o que Pipio fala a um personagem jogando bola; musicalmente é puro Broadway, apesar da percussão flertar com samba e bossa nova.

Com tanto clichê e citação, a história pouco anda, mas os atores, grandes dançarinos e cantores, saem-se muito bem da empreitada, especialmente a atriz Tanesha Ross, que já foi finalista do programa de TV “American Idol”, uma potencial Gabriela, com perdão do chavão.

Cerca de um terço dos musicais apresentados no festival, chamado de “Sundance dos musicais”, em referência ao evento-vitrine do cinema independente americano, chega aos teatrões da Broadway e off-Broadway.

O evento é uma plataforma para convites, financiamento e promoção de caras novas. No último ano, a Broadway arrecadou US$ 1,14 bilhão em ingressos (cerca de R$ 2 milhões).

Fonte: Folha de S. Paulo

A canção está em crise?

O quinto encontro da seção “Desentendimento” reúne o cantor e compositor Romulo Fróes e o professor de música da USP Walter Garcia para discutir o estado atual da música brasileira e uma suposta crise da canção. Paulo da Costa e Silva, coordenador da Rádio Batuta, a webradio do IMS, foi responsável pela mediação do bate-papo em vídeo.

Bloco 1 – “Sobrevivendo ao inferno [dos Racionais MC’s] tem um patamar artístico mais elevado que Cambaio, de Chico Buarque”.

Em entrevista, Chico Buarque foi o primeiro grande nome da MPB a mencionar um possível “fim da canção”. Está a canção em crise? E por quê? Rômulo Fróes argumenta que a ideia de um público, como existia nos anos 50, não existe mais. O compositor acredita que a canção não tem mais um papel protagonista, e que vive uma crise no sentido de que a crítica espera um novo Chico ou Caetano desta geração.

Walter Garcia retoma o contexto no qual Chico fez a afirmação sobre o fim da canção: a relação da canção tradicional com a MPB e com o rap. Para Walter, o disco Sobrevivendo ao inferno, dos Racionais Mc’s, tem muito mais força que Cambaio, de Chico Buarque. O rap tem a capacidade de dialogar com a experiência contemporânea de viver nas grandes cidades brasileiras.

Bloco 2 – “O Criolo acha que pode mexer com Chico Buarque na maior. Uma petulância do bem.”

Walter Garcia e Romulo Fróes discutem os meios de produção atuais da música – o acesso ao computador como necessário para criar música nos dias de hoje. Paulo questiona se o rap pode ser visto como uma continuidade ou uma negação da música que vinha sendo produzida no país. Walter traça uma linha da música negra em São Paulo, que passa ao largo da história oficial da MPB. Romulo Fróes, discutindo os sucessores de Racionais, afirma que Emicida e Criolo, artistas que vieram depois, não apresentam mais a violência do Mano Brown. O compositor afirma que esses novos músicos conseguem repensar o cânone (Chico, Caetano) de maneira irônica, sampleando e parodiando.

Bloco 3 – “A crise do Chico está na canção dele”

Walter toma o último disco de Chico Buarque e propõe mais uma comparação com Racionais. Fróes questiona a eficácia dos arranjos nos últimos discos de Chico, exemplificando sua crítica com a canção Tipo um Baião  – e Walter discorda, defendendo o trabalho de Luiz Cláudio Ramos. Garcia afirma que Ramos é avançadíssimo no jogo entre a harmonia e a melodia.

Bloco 4 – “A canção da MPB expressava uma ideia de conciliação de classes desde os anos 40. A partir de 1980, essa ideia começou a ruir.”

Romulo Fróes retoma o trabalho de Caetano Veloso em seus últimos discos – e o contato do compositor com novos artistas, que transformou a música dele. Walter afirma que, desde O estrangeiro, Caetano tenta dar conta de uma nova fase da vida brasileira, na qual a violência aparece e a conciliação de classes não é mais possível.

Fonte: Revista Serrote

Comédia vira a tábua de salvação do cinema nacional em 2012

por Rodrigo Salem

O cinema brasileiro apostou em caras famosas da TV, criou pretensos blockbusters e resgatou jogadores de futebol polêmicos. Mas nenhum filme no primeiro semestre de 2012 conseguiu ultrapassar a marca do milhão de espectadores -ano passado, durante o mesmo período, quatro longas romperam essa marca.

Pior: somando o público dos dez maiores filmes brasileiros do ano até agora, cerca de 2,7 milhões de espectadores, ela não alcança nem a do maior filme do ano passado, “De Pernas Pro Ar”, com 3 milhões de pagantes.

A missão de mudar o quadro agora cai sobre os ombros de Bruno Mazzeo e seu “E Aí… Comeu?”, que estreia hoje em 550 salas.

A confiança na comédia baseada na peça de Marcelo Rubens Paiva não é um fenômeno isolado. Nos últimos cinco anos, o gênero que dominava o mercado da metade dos anos 1970 até o fim dos 80 –boa parte por causa do sucesso de “Os Trapalhões”–, ressurgiu ao ponto de virar uma das poucas esperanças de uma virada de jogo para o cinema nacional, que, nos primeiros quatro meses deste ano, apontou queda de mais de 60% em público e renda em comparação a 2011.

Divulgação
Ingrid Guimarães e Eriberto Leão em cena de "De Pernas Pro Ar 2"
Ingrid Guimarães e Eriberto Leão em cena de “De Pernas Pro Ar 2”

 

Os filmes espirituais (“Nosso Lar” e “Chico Xavier”) e a franquia “Tropa de Elite” foram os únicos dramas a entrar no top 20 de maiores bilheterias brasileiras nos últimos seis anos -os outros cinco filmes são comédias lideradas por “Se Eu Fosse Você”, com Tony Ramos e Gloria Pires.

Nos cinco primeiro anos da década, a tendência era outra. Apenas duas comédias entraram na lista: “Os Normais” e “Lisbela e o Prisioneiro”, ambos de 2003. Dramas como “Olga” (2004), com 3 milhões de espectadores, e “Carandiru” (2003), com 4,6 milhões de pagantes, disputavam em pé de igualdade com os longas da Xuxa. A primeira metade da década marcou também o início das cinebiografias de músicos com o sucesso de “Dois Filhos de Francisco” (2005) e “Cazuza: O Tempo Não Para” (2004).

“É um momento estranho”, diz o cineasta e roteirista Jorge Furtado, autor do texto de “Lisbela e o Prisioneiro” e diretor de “Saneamento Básico – O Filme” (2007). “O problema é que o cinema nacional não está conseguindo tirar as pessoas de casa. O sucesso do filme está no interesse do público e a comédia tem a vantagem do julgamento instantâneo: ela é engraçada ou não.”

“É claro que sabemos que a comédia é o gênero tradicional do brasileiro”, fala Bruno Wainer, sócio-diretor da Downtown Filmes, co-produtora dos filmes mais vistos do ano passado, os humorísticos “De Pernas Pro Ar” e “Cilada.com”, que, somados, renderam cerca de R$ 55 milhões.

“Ela é mais fácil de produzir. Só precisamos de um bom texto e um bom comediante. Ganhar R$ 20 milhões com um filme de orçamento de R$ 4 milhões é melhor”, explica Wainer, que foi ajudou a lançar por filmes “sérios” como “Cidade de Deus” (2001) e “Chico Xavier” (2010).

Augusto Casé, produtor dos três longas de Bruno Mazzeo, inclusive o novo “E Aí… Comeu?”, acredita que a ascensão do humor no cinema brasileiro nos últimos anos não é para ser desprezada. “Queremos ocupar as lacunas que ‘A Era do Gelo’ e as comédias americanas preenchem”, confirma. “Sem público, como haverá o fortalecimento do cinema nacional?”
No entanto, há uma clara tendência de temas nas comédias de maior sucesso nos últimos anos. A maioria tem um forte apelo sexual. Seja uma mulher que cuida de uma sex shop (“De Pernas Pro Ar”) seja um homem provando que é bom de cama depois de um mico online (“Cilada.com”), quanto mais piadas sacanas, melhor.

“É natural. A comédia muda de acordo com a sociedade. O humor reflete isso e agora podemos fazer comédias mais arrojadas e com viés sexual, quebrar tabus. O público já absorveu esse humor”, diz José Alvarenga Jr., cineasta de “Os Normais” e “Cilada.com”.

Renato Aragão, dono dez filmes no top 10 das maiores bilheterias do cinema nacional em todos os tempos, acredita que a comédia vive um ciclo, mas que o gênero de piadas mais pesadas não o atrai a retornar aos longas. “Não faria um filme apelativo nem se passasse muita necessidade”, confessa o comediante, que prepara uma animação em 3D estrelada por seu personagem Bonga, o vagabundo e desenhada por membros brasileiros da equipe técnica de “Rio”.

Fonte: Folha de S. Paulo

Especulação imobiliária em São Paulo fecha as portas do Via Funchal

Nota da editora do Catarse Musical:

Há dois ou três anos, quem mora em São Paulo tornou-se refém da especulação imobiliária, que elevou o preço de imóveis comerciais e residenciais a valores exorbitantes, impactando diretamente nos custos de produtos e serviços, tornando cada vez mais impraticável o custo de vida na cidade.

Regiões como Vila Olímpia (onde está o Via Funchal), Itaim, Vila Nova Conceição, arredores da Avenida Paulista e proximidades de outros locais com alta concentração de escritórios experimentam o congestionamento nas vias e até nas calçadas, preços absurdos de produtos, serviços, aluguel e compra de imóveis, porém sem melhoria em questões de infraestrutura como interligação entre meios de transporte (novos corredores, linhas de ônibus e metrô novos já estão saturados), reparos em calçadas (que vitimam muitas usuárias de salto alto) ou semáforos, dentre outras coisas…

Agora, essa bolha imobiliária tira da cidade uma casa de shows que recebe milhares de pessoas por ano e contribui para o crescimento da área do entretenimento na cidade, que emprega muitas pessoas e faz girar milhões de reais. Em detrimento dessas muitas pessoas que disfrutam dos shows ou fazem dele seu sustento, alguns afortunados constroem mais um empreendimento que contribuirá para o trânsito caótico e uma supervalorização completamente fora da realidade.

Vejam os detalhes na matéria abaixo. Beijos, Mariana Paes.

Especulação imobiliária em São Paulo fecha as portas do Via Funchal

por Vinícius Cunha

Segundo a coluna de Sonia Racy no Estadão, São Paulo vai perder mais uma casa de shows para a especulação imobiliária. Depois do Vegas, um dos grandes símbolos da Rua Augusta, o Via Funchal fechará as portas e dará lugar a um empreendimento gigantesco do ramo imobiliário.

O Via Funchal que recentemente recebeu artistas como The Kooks, Vampire Weekend, Belle & Sebastian e Scissor Sisters será demolido e está sendo vendido para incorporadora Toledo Ferrari por mais de R$100 milhões. Com isso, a cidade ficará ainda mais carente de opções para a produção de shows de grande porte, valendo lembrar que o Citibank Hall também encerrou suas atividades em fevereiro, este graças à recusa da T4F de pagar o reajuste estipulado pelos proprietários do terreno para renovação de contrato.

O encerramento das atividades deve acontecer no final de novembro e até o período a casa tem pelo menos oito apresentações confirmadas, entre elas, os shows de Flogging MollyB. B. KingMegadeth e Epica.

Depois disso, ficarão apenas as boas lembranças de tantos ídolos vistos por lá.

Fonte: RocknBeats

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